Ser Mãe Atípica Não É Ser Só Mãe de Autista
— É Ser Voz de Todas as Deficiências
Mãe Não Convencional
A luta por visibilidade não pode excluir quem mais precisa ser visto.
Nos últimos anos, o termo “mãe atípica” passou a ser, quase automaticamente, associado à maternidade de crianças com autismo. E não há problema algum nisso. O avanço da visibilidade do espectro autista foi — e continua sendo — uma conquista importantíssima.
Hoje, o autismo está presente nos debates públicos, nos planos de saúde, nas políticas escolares, nas campanhas de conscientização e até no comércio. Fala-se em diagnóstico precoce, cordão girassol, fila prioritária, inclusão pedagógica, capacitação de profissionais. Isso é progresso. É justiça. E é merecido.
Mas... é insuficiente.
👩👧👦 A maternidade atípica é muito mais ampla do que parece
Ser mãe atípica não é apenas conviver com o TEA (Transtorno do Espectro Autista). É maternar crianças com condições raras, deficiências múltiplas, síndromes desconhecidas, doenças crônicas complexas ou diagnósticos ainda em investigação.
É cuidar de filhos com:
Síndrome de Williams
Síndrome de Robinow
Síndrome de Prader-Willi
Síndrome de Tourette
Paralisia Cerebral
Síndrome de Down
Microcefalia
Surdez
Cegueira
Entre outras dezenas de condições pouco faladas, mas vividas todos os dias por milhares de famílias.
Muitas dessas mães enfrentam a solidão de não terem sequer um nome claro para o que o filho tem. Vivem em um sistema que só responde ao que entende — e silencia diante do que não se encaixa.
📊 O risco da visibilidade seletiva
Hoje, o autismo é pauta dominante. Com uma prevalência estimada em 1 a cada 36 crianças, é natural que haja mais campanhas, serviços, formações e produtos voltados para esse público. Mas isso também traz um risco: o de transformar uma causa legítima em uma causa única, invisibilizando as demais.
Isso não é culpa das famílias de autistas, e sim de um sistema que opera com base em volume, audiência e retorno financeiro.
A mídia foca onde há engajamento. O mercado investe onde há demanda.
E os direitos passam a ser distribuídos conforme a popularidade do diagnóstico.
Mas inclusão não é marketing. É política pública.
E política pública precisa ser universal.
📌 Mães atípicas não podem ser divididas por CID
A realidade é clara: muitas mães ainda são obrigadas a “provar” que seus filhos precisam de prioridade.
Mães de crianças com paralisia cerebral sendo ignoradas no atendimento.
Crianças surdas sem acesso a intérprete de Libras na escola.
Alunos com síndromes raras excluídos de atividades por falta de capacitação docente.
Mães exaustas, sobrecarregadas e isoladas por uma rede de suporte que só existe em torno do diagnóstico mais conhecido.
Não se trata de competição por dor.
Trata-se de recusar a lógica de escassez, onde só quem “grita mais” é ouvido.
🔁 De políticas segmentadas para uma inclusão sistêmica
O futuro da inclusão não está em criar uma política para cada CID.
Está em garantir os direitos fundamentais de toda pessoa com deficiência, visível ou invisível, rara ou comum.
Educação adaptada
Atendimento prioritário no SUS
Acessibilidade real
Transporte adequado
Formação profissional para acolhimento e apoio
Apoio psicológico às famílias
Diagnóstico gratuito e acessível
Esses não devem ser benefícios extras — devem ser básicos.
✊ Nossa luta é coletiva, ou não é inclusão
Ser mãe atípica é:
Ter um filho que fala demais ou não fala nada.
Lidar com convulsões, sondas, fraldas em crianças grandes, regressões, crises sensoriais ou síndromes sem nome.
Viver entre o cansaço e a força, entre o luto e o amor, entre o invisível e o inadiável.
É ser ponte entre o que o sistema não vê e o que precisa existir.
É ser voz onde a escuta é seletiva.
É ser resistência onde o acolhimento falha.
Não estamos contra nenhuma causa. Estamos a favor de todas.
Porque inclusão de verdade não exclui ninguém.
💬 E você? Já parou para pensar em quem está fora das manchetes?
Se você é mãe, educador, profissional da saúde ou apenas alguém que se importa, compartilhe esse texto.
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A maternidade atípica é diversa. E todas as nossas crianças merecem existir com dignidade.
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Só vai haver verdadeira inclusão quando a gente parar de lutar apenas por partes — e passar a exigir justiça para o todo.