Espiritualidade na vida da mãe atípica: mais que fé, um alicerce para sobreviver

Para muitas mães atípicas, a espiritualidade não é luxo — é ferramenta de sobrevivência, força e sentido para enfrentar os desafios diários.

MÃE NÃO CONVENCIONAL

Quando me tornei mãe atípica, percebi que a vida não estava interessada nos meus planos.
As rotas que eu tinha traçado foram rasgadas sem aviso. Não importava se eu era forte, disciplinada ou organizada. Importava que, a partir daquele momento, eu teria que aprender a viver um dia de cada vez — e, muitas vezes, um minuto de cada vez.

É nesse terreno instável que a espiritualidade entrou na minha vida não como escolha, mas como necessidade. E não falo aqui de religião institucional ou de um conjunto de rituais obrigatórios. Falo daquela força silenciosa e íntima que você busca quando sente que não vai aguentar. Falo da conversa que você tem com o que acredita ser maior que você, quando o mundo está barulhento demais e, ao mesmo tempo, vazio demais.

Para a mãe atípica, a espiritualidade é mais do que crença — é refúgio e combustível.
É onde a gente entrega as perguntas que não têm resposta. É onde encontramos um respiro depois de uma madrugada inteira acordada, de uma crise que aconteceu no meio da rua, de um novo laudo que muda toda a rota da vida.

No meu caso, a espiritualidade começou como um grito. Eu me vi repetindo “Deus, me ajuda” não como frase bonita, mas como um pedido desesperado para não perder o controle. Com o tempo, percebi que essa frase não era apenas um apelo. Era um lembrete de que eu não estava sozinha, mesmo quando fisicamente não havia ninguém por perto.

Essa presença — invisível para os olhos, mas impossível de negar para o coração — me ajudou a não sucumbir ao peso da rotina.
A espiritualidade me ensinou que eu não precisava ter todas as respostas, e que tudo bem chorar no meio do dia, desde que eu levantasse de novo. Me mostrou que, mesmo no caos, pode haver significado. Não para romantizar a dor, mas para dar sentido à resistência.

Há dias em que a fé é a única coisa que se mantém de pé quando todo o resto desmorona. E não estou falando de milagres que apagam diagnósticos ou dificuldades, mas de milagres silenciosos: conseguir levantar da cama, ter paciência para mais uma sessão de terapia, achar forças para explicar pela milésima vez para o mundo que sua filha não precisa ser consertada.

Para algumas mães, a espiritualidade vem na forma de orações. Para outras, é meditação, contato com a natureza, leitura de textos sagrados, música, silêncio profundo.
O nome que você dá não importa. O que importa é que exista algo que te reconecte com quem você é, para além do papel de mãe. Porque, sem isso, a gente se perde. E mãe perdida não consegue guiar um filho — atípico ou não.

Eu aprendi que minha espiritualidade não precisa ser perfeita. Ela não exige que eu esteja sempre calma, nem que eu não sinta raiva. Pelo contrário: ela me acolhe exatamente como eu sou, com todas as minhas contradições. E isso é libertador.

Ser mãe atípica é, muitas vezes, viver no limite. Entre consultas, burocracias, julgamentos e uma carga emocional que poucas pessoas entendem, a espiritualidade se torna a linha invisível que nos impede de cair. Ela não muda o fato de que os dias são difíceis, mas muda a forma como a gente atravessa cada um deles.

Se você está lendo isso e sente que está carregando o mundo sozinha, talvez seja hora de perguntar: o que me sustenta quando tudo parece ruir?
Não importa se a sua resposta for Deus, energia, universo ou força interior. O que importa é que você se permita se apoiar nisso sem culpa. Porque a espiritualidade, para nós, não é luxo — é ferramenta de resistência.

E no fundo, acho que é isso que nos mantém: acreditar que, mesmo quando o mundo não entende nossa luta, existe algo maior que nos entende por inteiro.

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