E SE EU MORRER ANTES DA MINHA FILHA ?

Mães atípicas vivem o medo de morrer antes do filho e deixá-lo vulnerável. Saiba como registrar sua vontade, nomear tutor e proteger legalmente quem você ama.

MAE NAO CONVENCIONAL

Eu nunca tive medo de morrer, mesmo sendo uma policial.
Meu medo sempre foi morrer antes da Duda.

Para quem vê de fora, pode parecer exagero. Para quem vive, sabe que é uma das angústias mais profundas que uma mãe atípica carrega no peito. Não é sobre a minha ausência física. É sobre quem vai cuidar dela, entender suas necessidades, respeitar seu jeito, garantir seus direitos e, principalmente, amá-la de verdade.

No meu caso, a situação tem uma camada extra de preocupação: o pai da Duda é ausente há 14 anos. Não participa, não conhece a rotina, não sabe dos tratamentos, não sabe como lidar com as crises ou os desafios diários. E, ainda assim, pela lei, se algo me acontecer, ele é o responsável legal imediato. Tudo porque existe um laço meramente sanguíneo. Não entra na minha cabeça que isso pese mais do que amor, presença e cuidado real.

A minha vontade é muito clara: se um dia eu não estiver aqui, quero que a Duda fique com meus pais. Eles conhecem cada detalhe da vida dela, sabem como acalmá-la, como estimulá-la, como fazê-la se sentir segura. Mas meus pais também estão envelhecendo. E isso me obriga a pensar em um plano B — uma segunda opção que, para mim, faria sentido: os padrinhos. Pessoas que a amam, que convivem, que sabem das necessidades dela e que, acima de tudo, querem o bem dela sem interesses por trás.

Mas o que me assusta é saber que, sem um registro formal, essa vontade pode não ser respeitada. A decisão final vai parar nas mãos de um juiz, e o critério legal vai priorizar o vínculo biológico. Isso significa que, na prática, minha filha poderia acabar com alguém que não a vê há mais de uma década, apenas porque o nome dele está na certidão de nascimento.

E é por isso que eu falo: não basta amar, é preciso proteger legalmente.
Existe a escritura pública de nomeação de tutor (feita em cartório), que permite indicar quem você deseja que assuma a guarda do seu filho em caso de morte ou incapacidade. Esse documento não garante 100% que a sua vontade será cumprida, mas serve como prova forte da sua intenção e pode influenciar muito a decisão judicial.

Mais do que isso, é essencial deixar tudo organizado:

  • Documentos pessoais e médicos da criança.

  • Laudos, relatórios escolares e terapêuticos.

  • Contatos de profissionais de saúde, professores e cuidadores.

  • Rotinas diárias, medicações, alergias, preferências e gatilhos emocionais.

Eu chamo isso de “dossiê de cuidado”. É como se fosse um manual de instruções para que, mesmo sem mim, a Duda continue recebendo o cuidado que merece.

Sei que é um assunto doloroso. Ninguém gosta de pensar na própria morte. Mas evitar essa conversa não faz o medo sumir — só aumenta o risco de, no pior cenário, nossos filhos ficarem vulneráveis. E, para nós, mães atípicas, vulnerabilidade não é um detalhe: é a diferença entre uma vida protegida e uma vida à mercê da sorte.

Eu não sei quando nem como a minha hora vai chegar. Mas sei que, se ela chegar antes do que eu gostaria, quero ter a certeza de que deixei tudo preparado. Quero que a Duda fique com quem a ama de verdade. Quero que minha voz continue sendo ouvida, mesmo que eu não esteja mais aqui para gritar.

E você? Já pensou sobre isso? Já registrou sua vontade? Ou ainda está adiando porque dói demais imaginar?
Acredite: enfrentar esse assunto agora pode ser o maior ato de amor e coragem que você fará pelo seu filho.

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