A importância da atividade física na maternidade Atípica.
Descobri na dor o limite do corpo e, no movimento, a única forma de continuar viva.
MÃE NÃO CONVENCIONAL
Quando a gente fala sobre maternidade atípica, quase ninguém menciona o corpo da mãe. Falam sobre os desafios do filho, os avanços da criança, as terapias, os marcos do desenvolvimento, os laudos, as escolas, os direitos. Mas ninguém pergunta como está o corpo da mulher que sustenta tudo isso. E eu não estou falando de estética. Estou falando de dor física, tensão muscular, dores nas costas, inflamações silenciosas, alterações hormonais, noites mal dormidas, cansaço crônico e aquela sensação constante de que você está carregando algo muito maior do que o próprio peso — porque, de fato, está.
A maternidade atípica exige da mulher um nível de entrega tão alto, tão constante e tão desproporcional que o corpo começa a reagir. E muitas vezes ele reage em silêncio, até não aguentar mais. Primeiro vêm os esquecimentos, o cansaço extremo, as dores que parecem normais. Depois, surgem a ansiedade, os desequilíbrios hormonais, a perda da libido, os surtos de raiva, a falta de ar. E o que o mundo faz com isso? Diz que você precisa descansar, que tem que ter fé, que deve ser grata — como se bastasse fechar os olhos e respirar fundo para curar uma sobrecarga que já virou um estado permanente.
A atividade física, nesse cenário, não é vaidade, não é hobby, não é luxo. É ferramenta de sobrevivência. Eu não comecei a me movimentar porque queria um corpo melhor. Comecei porque meu corpo estava entrando em colapso. A cabeça estava cheia, o peito apertado, o sono comprometido, a alimentação desregulada, e a sensação de descontrole era permanente. Comecei porque percebi que, se eu não me mexesse, eu ia quebrar — e se eu quebrasse, ninguém ia me segurar.
Não estou falando de treinar todo dia, nem de virar atleta. Estou falando de colocar o corpo em movimento, do jeito que der, na frequência possível, sem culpa e sem cobrança. Caminhar no quarteirão. Fazer alongamento com vídeo do YouTube. Dançar sozinha por cinco minutos depois que a criança dormir. Respirar conscientemente. Parar para sentir as pernas, o pescoço, os ombros. Retomar a posse do corpo que foi sequestrado pela função de cuidar.
A atividade física, quando bem orientada e respeitando o seu ritmo, ajuda a reduzir o cortisol, melhora a qualidade do sono, alivia a tensão acumulada e te devolve ao menos uma parte da sua autonomia. E talvez o mais importante: te lembra que você existe. Que você também tem um corpo, que esse corpo precisa de cuidado, e que ele não foi feito apenas para carregar sacolas, sustentar crises e aguentar julgamentos.
Eu precisei adoecer pra entender isso. Precisei ver meu corpo travar, minha mente entrar em exaustão e minha saúde se deteriorar até não conseguir mais fingir que estava tudo bem. Tive que entender que ou eu colocava minha saúde na equação, ou eu não duraria muito. E decidi resistir. Com movimento, com intenção, com limites.
Então, se você está aí sentindo que não tem tempo, que não tem força, que não tem mais energia — eu te entendo. Mas te digo com verdade: se você não fizer por prazer, faça por necessidade. Se não fizer pelo corpo, faça pela mente. Se não fizer por vontade, faça pela sobrevivência. Porque uma mãe que cuida de tudo sem cuidar de si mesma está em contagem regressiva. E a maternidade atípica, você já sabe, não te dá espaço para parar por falha estrutural.
Atividade física, no nosso contexto, é o único autocuidado que não precisa de palavras. O corpo fala, a mente responde, o sangue circula, a vida insiste. Não é milagre, não resolve tudo, mas é uma das poucas coisas que te devolvem a sensação de controle — mesmo que por alguns minutos. E isso, para quem vive em alerta o tempo todo, já é revolução suficiente.
📘 Essa crônica é inspirada no livro - MÃE ATÍPICA — Quem cuida de quem cuida?
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